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Chifres de rinocerontes tornados radioativos para dissuadir traficantes na África do Sul
Uma universidade sul-africana lançou uma campanha contra a caça ilegal de rinocerontes que consiste na injeção de isótopos radioativos nos chifres dos animais que, segundo a instituição, são inofensivos para a sua saúde mas podem ser detetados em aeroportos e fronteiras.
No âmbito do Projeto Rhisotope, um projeto colaborativo que envolve a Universidade de Witwatersrand, de Joanesburgo e as autoridades da área da energia nuclear e de conservação, cinco rinocerontes vivos foram injetados na semana passada na esperança que esta solução possa ser massificada e venha a reduzir a procura por parte de traficantes e consequentemente a salvar os rinocerontes da ameaça de extinção.
Em junho do ano passado, vinte rinocerontes foram injetados com doses baixas isótopos no estudo piloto que abriu caminho para o lançamento na quinta-feira. "Após três anos de trabalho árduo, meticuloso e dedicado, o #TheRhisotopeProject da Universidade de Wits conseguiu inserir com sucesso doses baixas de #radioisótopos em 20 #rinocerontes vivos", divulgou na altura o RhisotopeProject no X.
The Rhisotope Team experienced a surreal and emotional day as they achieved a significant milestone. After three years of meticulous and dedicated hard work, #TheRhisotopeProject at Wits university has successfully inserted low doses of #radioisotopes into 20 live #rhinoceros. pic.twitter.com/4uYVmx5IH6
— Rhisotope (@rhisotope) June 28, 2024
Ciência nuclear pode salvar rinocerontes
Os investigadores da Universidade Witwatersrand, que colaboraram com a Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA), afirmaram que os testes realizados
no estudo piloto confirmaram que o material radioativo não era
prejudicial para os rinocerontes e que os isótopos radioativos, mesmo em
níveis baixos, podem ser facilmente detetados em fronteiras internacionais.
"Demonstrámos, sem qualquer dúvida científica, que o processo é
completamente seguro para o animal e eficaz para tornar o chifre
detetável através dos sistemas de segurança nuclear das alfândegas
internacionais", afirmou James Larkin, diretor científico do Projeto
Rhisotope, de acordo com o Guardian.
"Mesmo um único chifre com níveis significativamente mais baixos de
radioatividade do que os que serão usados na prática acionou com sucesso
os alarmes dos detetores de radiação", acrescentou, explicando que os testes revelaram que os chifres podiam ser detetados dentro de contentores marítimos de 40 pés (12 metros).
Mas se a ciência nuclear pode salvar rinocerontes, os rinocerontes também podem ajudar a salvar pessoas: "O crime contra a vida selvagem é um dos quatro principais crimes do
mercado negro", sublinha o Projeto Rhisotope na sua página de Internet. Além do tráfico de
drogas, de pessoas e de armas, o tráfico de animais também serve para financiar o
terrorismo internacional e "tornar o mundo um lugar mais perigoso para todos".
Segundo os responsáveis do Projeto Rhisotope, a injeção de isótopos radioativos nos chifres dos rinocerontes aumenta a probabilidade de caçadores furtivos e traficantes serem apanhados, processados e condenados ao abrigo das leis antiterrorismo.
A África do Sul tem a maior população de rinocerontes do mundo, cerca de 16 mil, mas centenas desses animais são caçados ilegalmente todos os anos. "Pelo menos um animal por dia ainda é caçado ilegalmente", disse James Larkin à BBC. "Acho que os números só vão aumentar se não tomarmos cuidado (...), esta é uma ferramenta importante para ajudar a reduzir o número de caçadas ilegais, porque estamos a ser proativos em vez de reativos".
Neste sentido, os investigadores da Universidade de Witwatersrand instam os proprietários de parques naturais privados e as autoridades nacionais de conservação a injetarem os seus rinocerontes.